Fiquei sinceramente assustada com o filme A onda, assustada porque me pareceu realmente muito fácil a propagação de uma ideologia.
No filme uma ideologia é abraçada por um determinado grupo de alunos, na verdade incorporada a eles. De uma maneira que me pareceu muito simples e em menos de uma semana!
Dentro de uma semana, o tal grupo já se diferenciava dos demais através de um uniforme improvisado, não apenas como um símbolo de identidade do grupo, mas como uma máscara que ocultava as diferenças sociais; Intitulavam-se como A onda, metaforizando que passariam como uma por cima de todos... Ganham uma logomarca e até uma saudação própria.
Nas aulas de autocracia, de maneira sutil e até aparentemente divertida, os alunos não apenas aprendem, mas vivenciam/praticam uma forma de governo autoritário, uma forma de fascismo na verdade, chegando a obrigar outras pessoas a fazer parte do grupo, ou então, os excluindo de forma repulsiva e até violenta.
Nas primeiras aulas o professor pede para que os alunos enumerem as características de um governo fascista, e eles o fazem: o totalitarismo, a liderança carismática, o corporativismo, o nacionalismo, o militarismo, o expansionismo e o companheirismo entre os membros do grupo.
E alegam não ser mais possível se estabelecer um governo fascista na Alemanha, “nós já superamos isso” diz um aluno e membro dA onda.
E sem perceber lá estão eles seguindo cegamente seu líder; defendendo seu grupo a qualquer custo, inclusive com violência; não permitindo críticas ao seu grupo, censuram a mensagem que duas alunas querem distribuir contra o movimento; pregam adesivos e picham muros com a logomarca, o símbolo que os identifica... Enfim.
Isso pode-se dizer que se deu mediante ao papel do professor em sala de aula e a sua capacidade de formar opinião e abrir mentes. A figura do líder que é a fonte de autoridade e poder com a qual os jovens seguidores cegamente se identificam, e essa identificação liberta os jovens de pensarem e decidirem por si próprios, mas não foi somente isso, a fragilidade dos alunos permitiu que eles adotassem o fascismo dA onda, os personagens que tinham maior visibilidade deixava claro que não tinham boa relação familiar, ou não tinham amigos, ou invejavam os mais bonitos, ou os mais ricos, e foi esse ressentimento que fez com os que se achavam fracos agora se achassem fortes por estarem dentro de uma unidade.
O que era para ser um experimento de dentro de sala de aula de uma semana, infelizmente ganha um rumo inesperado, a situação fica desagradável quando os alunos trocam a inserção “dentro da sala de aula” pelo fanatismo fora dela, tornando-se uma turma altamente poderosa, impondo seus ideais como únicos e exclusivos.
Foi na partida de pólo aquático que o professor, quase que tardiamente, percebe que precisa por um ponto final em tudo aquilo.
O final do filme é forte e nos faz questionar: será só que podemos compreender a prática depois de a termos praticado?